abrotea

palavras!simples palavras! patriciags468@gmail.com

quarta-feira, dezembro 31, 2003

Mais um ano novo que se aproxima...
Mais uma euforia...
Não gosto desta celebração...
O meu tempo não se move a essa velocidade.
Não me interessa celebrar a entrada de um novo ano.
Os meus começos, os meus "1ºs de Janeiro", são todos os dias.
Ás vezes, várias vezes ao dia.
Mas sem champanhe...
Começar de novo, a cada segundo...
Não tenho fé que um dígito a mais no calendário me faça mais feliz.
Acredito que serei mais feliz porque espero todos os dias me esforçar para isso.
Mas aceito que todos os outros celebrem, riam e se divirtam.
Por isso mesmo, aqui ficam os meus desejos para todos os que me leiam: celebrem, riam, divirtam-se e tenham um bom Ano Novo.

segunda-feira, dezembro 29, 2003

E a noite, o que é?
É o manto negro de que me visto
Onde me encolho e aconchego
Tão negro, que nem lágrimas reluzem
Nem prantos ecoam.
Tudo abafa, tudo abafa...
É o vestido cor de noite
Que uso para te seduzir,
Véu onde te enredo
E me descubro
Para que vejas o meu corpo nu
E sedento do teu
Encontro-me dispersa do meu ser.
Absurdamente longe do meu corpo
Viajo sem precedentes, acima do tempo
Acima do pensamento
Serei, contudo, irreal
Desconhecida para o mundo
Louca para alguns
Entre sorrisos, paixões e alguns amores,
Sairei de mim
Sem deixar aviso ou adeus
Sem deixar rasto
Entrarei no mundo dispersa
Em fragmentos de ser,
De passado,
De desejos
De restos de saudade
Dispersa...
Não me vou recolher nos cacos
Não vou colar pedaços
Remendar trapos
Não vou amar nunca mais
Não me vou tentar encontrar no céu
Porque deixei de existir
Passei a ser, só.
Dispersa de mundo que me quis ter
E me perdeu por não saber dar-me.
Saio de mim
E vejo-me beijando-te pelo vento
Numa última vez
E sem saberes desperdiçarás
Não saborearás.
Não me reténs num fragmento de tempo
E o tempo acabou
Desfragmentei-me na realidade
Transpus-me para o intemporal
E de cá de cima, vejo-te
Até te perder de vista
Passo para lá, para cá
E sou, não existo
Perdeu-se-me a memória
Secaram-me as lágrimas
Dispersei-me da alma
Aquela que já não tens
E sem saberes, já não amas
Parti para o silêncio das horas mortas
Das palavras soltas
Dispersei-me
E não voltarei....
E, por fim, descansarei.

sexta-feira, dezembro 19, 2003

Vem aí mais um Natal.
Mesmo para quem não festeja esta quadra, a época não passa despercebida. São os anúncios, as iluminações, os apelos consumistas que nos massacram todos os dias e a culpa, quase sentida, de não conseguirmos comprar tudo.
Mas... o afecto não se compra.
A amizade não se vende.
O amor não se fabrica.
E eu, tu que me lês, e tantos outros, mais do que um shopping embrulhado a decorar a árvore de natal lá de casa, desejamos é ser felizes (sempre), receber alegria (expontânea), beijos (muitos e carinhosos), sorrisos (que bom!), amor (tanto quanto for possível) daqueles de quem gostamos e de muitos outros que esperamos ainda encontrar nos caminhos da vida.
Não se percam em ilusões: amor quer amor. Só. E não precisa de muito mais para fazer alguém feliz. Todos os dias.

Talvez valha a pena pensar nisto...

E é com este pensamento que vos deixo por uma semana, altura em que regressarei, renovada de afectos e histórias para contar.
Até lá, aproveitem a vida!
Arrisquem-se a ser felizes!
Boas Festas!

sexta-feira, dezembro 12, 2003

Não estou com muita vontade de escrever hoje.
É daqueles dias em tenho de fazer muito esforço para acreditar.
Mas está sol lá fora. E isso vai, talvez, ajudar.
Há muitos anos, escrevi um poema num jornal. Não me lembro do seu título, mas sei que dizia "estou cansada...".
Logo se uniram as vozes, demonstrando apoios desmedidos, curas milagrosas para males insondáveis.
Duas décadas depois, continuo cansada.
Cada vez mais cansada.
Mas não preciso daquela ajuda.
Precisava só que, cada um, em cada segundo da vida, tentasse ser melhor. Ser mais e com menos receios de viver.
Pensem nisso...
Vi-te, um dia, por acaso.
Reconheci-te no olhar.
E sei que me viste também.
Mas não soubeste descobrir quem sou.
E continuaste a tua caminhada.
Fui-te seguindo com o olhar.
Até te perder no horizonte.

quinta-feira, dezembro 11, 2003

(Fragmentos de Por acaso...)

-Hesitei muito em vir para cá, sabes?
-Vais dar-te bem cá, vais ver...- Na verdade, gostava de lhe ter perguntado porquê. Não sei porque voltou. Não sei ao que veio. E escapa-me a coragem de lhe perguntar.
-Tinha saudades deste mar! Já reparaste como está bonito?
Estava bonito, sim. Mas ainda não tinha reparado. Todos os meus sentidos se perdiam a pensar nela, no seu corpo, na sua vinda. No seu sorriso.
-Tive algum receio em voltar... – E ao dizer isto, deixou os olhos perderem-se ao longe.
-Mas voltaste... – arrisquei. Talvez agora me dissesse. Sem ter de lhe perguntar.
-Voltei, mas ainda não sei se fiz bem.
-Ainda bem que vieste...
-Gostas de me ter por cá? – Olhava agora fixamente para mim. Sem sorrir. De expressão dura. Séria. Como se esperasse algo de mim. Mas não tenho nada para lhe dar. Olhos nos seus olhos, mas afasto-os logo a seguir. Não sei o que lhe dizer. Não sei o que ela espera que lhe diga. Queres que te diga que tive saudades tuas? Queres que te explique que te mantiveste como fantasma nos meus sonhos, nas minhas caminhadas solitárias? Por vezes achava que me acompanhavas, de longe. Quase indistinta, no horizonte. Como uma luz. Ou uma estrela longínqua. Queres que te diga que sonhei contigo milhares de vezes? E que acordei sempre tremendo de frio e não de prazer, porque tinhas ido embora e nunca esperei voltar a ver-te? Que te achei perdida para o mundo para sempre? Sei lá o que te dizer! Nem sei porque voltaste...Porque havia de te dizer como preciso de ti para voltar a viver? Mas tu insistias: - Gostas de me ter por cá? Diz-me! Gostas que tenha voltado?
-Acho...que sim. Acho que vamos ser bons colegas. Temos ideias comuns. Podemos ter um bom projecto.
E pronto! Acabei de estragar tudo. Vejo-o na forma como o teu olhar me deixou cair. Como te recostaste na cadeira a olhar novamente o mar. mas não me pareces surpresa. Nem zangada. Nem desapontada. Deixaste, apenas, que o teu olhar me deixasse cair. E deixaste-me só. Porque, num segundo deixaste de estar ali e foste não sei para onde. Perdeste-te no horizonte. E apetece-me abanar-te, sacudir-te. Volta! Quero-te aqui! Preciso de ti aqui. Tens de me ajudar a dizer-te o que não sei! Não sirvo mesmo para estas coisas. Sinto-me retesado, dentro do meu corpo. Acho que continuo tremendamente ensopado em calor. Mas isso já não me incomoda. Incomoda-me a solidão em que me deixas. E, percebe, não gosto de estar só. Mas é assim, em solidão que me encontro todos os dias, todas as horas. Todas as noites. E quase me parece impossível poder ser de outra maneira. Por isso tens de voltar. E ficar. E ouvir para além das palavras que te sei dizer. Porque não te sei dizer mais.
-Queres mais um Gin?
-Não. Acho que não. Prefiro manter-me sóbria.
Pois eu preferia beber até cair. Sem vergonha que me visses para lá do decente. Podia ser que assim te dissesse ...algumas coisas que trago atravessadas dentro de mim. E que não me deixam respirar. E que me fazem sentir, todos os dias, que morro um bocadinho.

terça-feira, dezembro 09, 2003

Estou triste...
Gostava que o vento me levasse a alma por um bocadinho...

quarta-feira, dezembro 03, 2003

Não te entendo....O que via ela em mim? Porque me olhava assim?
Perdi já horas a olhar-me no espelho, procurando algo que me fizesse especial, diferente, talvez até atraente. Mas não. Nada. Sempre o mesmo corpo, desajeitado, rendendo-se à gravidade e ao tempo. Nada que pudesse atrair. Por isso, às vezes julgava que ela se divertia comigo. Porquê eu? Que tinha de especial? Nada. Nem tão pouco me achava charmoso, como ela me chamara.
Ela, pelo contrario, não sucumbira ao tempo. Não, o tempo fizera-lhe bem. Sentia-se que tinha amadurecido. Como um vinho que se revelou encorpado e macio, mas levemente adstringente. Exibia segurança, serenidade. E isso tornava-a ainda mais excitante. Meu deus! Esta mulher desperta-me do torpor! A sua essência entra-me pelos poros! Entranha-se em mim!
- Pede um Gin para mim. – pediu quase em sussurro. E eu pedi. Obediente. Transpirava por todos os lados. Sentia-me pegajoso e desconfortável dentro da roupa. Ela, pelo contrário, parecia fresca, resplandecente. Estava linda! Decerto, fizera já praia. Estava bem morena. Com um decote sugestivo. Excitante. Tenho vontade de a agarrar, de lhe calar as palavras com um beijo. Mas não tenho coragem. Só desejo. Nunca a beijei. Não sei a que sabe a sua boca. Mas imagino que saiba a paixão. Os meus, talvez saibam a sofreguidão. Porque é assim que me sinto. Sôfrego. Sedento.
Peço mais um Gin, para mim também, enquanto ela fala trivialidades. É até estranho que fale assim, coisas sem interesse. É uma mulher inteligente. Interessante. E, ainda assim, passa horas a falar de coisas que não me interessam. Coisas que não desejo ouvir. É como se soubesse. Mas me quisesse exasperar, sugar toda a minha paciência. Se calhar, é isso mesmo. Quer ver até onde me aguento. Mas eu vou aguentar sempre. Para sempre.
(fragmentos de "Por acaso...")

segunda-feira, dezembro 01, 2003

Revisito-te na memória...
Passeio por caminhos já percorridos
Sonho-te de muitas maneiras,
Em muitas horas.
Sinto quase como se fosse real
Como se não passasse de um sonho.
O mesmo cheiro, as mesmas mãos.
O mesmo destino.
Perfeito.
Desde sempre.
Para sempre.
Antes do tempo e para lá dele.
Um olhar que repousa em mim.
Nítido.
Sereno.
Explosivo.
Visito-te nas horas felizes.
Na sofreguidão do desejo
Num rio sereno
Num raio de sol
Ouve o meu riso.