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quinta-feira, setembro 07, 2006

"...Quando fizemos esta viagem juntos, estava sol. Sentamo-nos um em frente ao outro. Os joelhos a roçarem. E oferecíamos sorrisos de cumplicidade. Tu olhavas-me e sorrias. Dizias que querias guardar aquela imagem para sempre. Olhavas-me com profundidade. Como se me visses para além do meu corpo. Como se o teu olhar entrasse em mim. Por isso penso que querias guardar o que viste em mim naquele dia. E sorrias. Falavas de trivialidades, das coisas do dia a dia. Mas não eram trivialidades. Antes eram coisas preciosas que me diziam como vivias quando a vida existia para além de mim.
Eu olhava para a outra margem, para os montes e casas. Para aquele pescador solitário naquele barco tão pequeno. E pensava nas tuas palavras, nas que me ias dizendo. E nos meus silêncios, dialogava contigo. Mas apenas nos meus silêncios. E recostava-me na cadeira, olhando para a água a ser rasgada pela embarcação. E deixava que o meu olhar se perdesse. Às vezes fazias um gesto como se me fosses agarrar as mãos, mas as tuas, perdiam-se no ar e acabavam por não me tocar. E eu ficava a olhá-las. A desejar que tivessem terminado o seu caminho. Que tivessem agarrado as minhas. Ou que pousassem discretamente, num gesto casual, nos meus joelhos descobertos. Mas nunca o fizeste. E apesar da tua contenção, apesar do meu desejo, sorria-te..."

(excerto)

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