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segunda-feira, dezembro 29, 2003

Encontro-me dispersa do meu ser.
Absurdamente longe do meu corpo
Viajo sem precedentes, acima do tempo
Acima do pensamento
Serei, contudo, irreal
Desconhecida para o mundo
Louca para alguns
Entre sorrisos, paixões e alguns amores,
Sairei de mim
Sem deixar aviso ou adeus
Sem deixar rasto
Entrarei no mundo dispersa
Em fragmentos de ser,
De passado,
De desejos
De restos de saudade
Dispersa...
Não me vou recolher nos cacos
Não vou colar pedaços
Remendar trapos
Não vou amar nunca mais
Não me vou tentar encontrar no céu
Porque deixei de existir
Passei a ser, só.
Dispersa de mundo que me quis ter
E me perdeu por não saber dar-me.
Saio de mim
E vejo-me beijando-te pelo vento
Numa última vez
E sem saberes desperdiçarás
Não saborearás.
Não me reténs num fragmento de tempo
E o tempo acabou
Desfragmentei-me na realidade
Transpus-me para o intemporal
E de cá de cima, vejo-te
Até te perder de vista
Passo para lá, para cá
E sou, não existo
Perdeu-se-me a memória
Secaram-me as lágrimas
Dispersei-me da alma
Aquela que já não tens
E sem saberes, já não amas
Parti para o silêncio das horas mortas
Das palavras soltas
Dispersei-me
E não voltarei....
E, por fim, descansarei.