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terça-feira, março 09, 2004

Como se desliga o pensamento?

Como se desliga o pensamento?
Todos os dias ouço não penses nisso, não penses naquilo, não te incomodes, não estejas sempre a pensar nas coisas, o teu mal é que pensas muito, pensas demais. Talvez devesse ter nascido burra, para descanso de todos!
Como se desliga o pensamento? Porque eu não sei deixar de pensar. Todos os minutos e segundos do dia, me encontro a pensar. Mesmo quando converso com alguém, quando ouço alguém. Mesmo quando pareço alheada do mundo. Desconfio que mesmo quando durmo. Porque acordo de manhã com coisas, ideias novas na minha cabeça. Mas pensar não me incomoda. Chateia-me um pouco pensar rápido e a minha mão não ser capaz de acompanhar o pensamento e não ser, por isso, capaz de escrever tudo o que penso. Mas não me incomoda pensar. É algo tão inerente, não natural que é até estranho pensar que existe alguém que não pensa. E não pensará mesmo? Não sei. A mim dizem-me que tenho de tentar não pensar tanto. Que por pensar sobre as coisas, me incomodo com o estado do mundo, com a falta de princípios das pessoas e tantas outras coisas. Dizem-me para não pensar, mas nunca fui pela cabeça dos outros. E se me ponho a pensar nisto que me dizem, concluo que não estou errada em pensar. Porque as coisas devem ser de uma maneira e não é bom encolher os ombros e deixar de se importar. Porque não é assim que as coisas devem ser. Não é assim que eu quero ser. Recuso viver assim. E por isso, penso também que, quando me dizem que seria melhor para mim não pensar tanto, concluo que não é essa a verdadeira razão para o conselho. Dizem-me para não pensar tanto porque lhes incomoda o meu pensamento, as questões que lhes coloco sobre o que fazem e muitas vezes sobre o que não fazem. Questões incómodas porque não têm uma verdadeira justificação, fundamentada, para me darem. E sabem que não me contento com um porque sim. Porque um porque sim é igual a um porque não, igual a nada, igual a inércia, igual a não ser, não fazer, não existir. E não é para ser um não-ser que teimo em viver, mas para fazer a diferença. Mesmo que seja pouca, mesmo que seja quase “caseira”, tipo coisa de quintal. Desculpem-me a franqueza mas passarei a ignorar-vos nesses pedidos, nessas quase ordens de não pensar. Não me deixarei derrotar pelas vossas fraquezas.