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sexta-feira, julho 01, 2005

Pura Poesia

As vezes, fico de olhos vermelhos e lábios comprimidos.
De raiva, de tristeza.
E tenho mesmo vontade de chorar,
De deixar as lágrimas caírem sem esforço.
Mas não mo permito.
E não é hora de teorizar porquês.
Muitas vezes, fujo para este local.
Escapo do mundo deixando escapar as palavras.
Sempre alivia um pouco.
Mas há dias que nem mesmo isso consola...
Porque há dias, em que as palavras estão, também elas,
Tristes...
E a tristeza deixa-as pequeninas,
Sem vontade de dizer...
Em momentos como esses, recordo-me com frequência de poesias.
Poesias que me encheram a alma.
Recordo-me porque preenchem o silêncio do momento.
Porque dizem o sentimento. Da única maneira perfeita.
Essa, é a poesia pura.
Leva-nos para onde quer,
Preenche o vazio que se sente.
Diz as exactas palavras que não somos capazes de dizer
Conjuga o nosso pensamento, o nosso sentimento.
E passa a ser nossa.
Essa é a poesia.
Mas, basta de justificações.
Reli um poema de Eugénio de Andrade.
As suas palavras, podiam ser minhas.
Porque são o que não fui capaz de dizer.
Aqui ficam...


Às vezes tu dizias: os teus olhos são peixes verdes!
E eu acreditava.
Acreditava,
porque ao teu lado
todas as coisas eram possíveis.


Mas isso era no tempo dos segredos.
Era no tempo em que o teu corpo era um aquário.
Era no tempo em que os meus olhos
eram os tais peixes verdes.
Hoje são apenas os meus olhos.
É pouco, mas é verdade:
uns olhos como todos os outros.

Já gastámos as palavras.
Quando agora digo: meu amor...,
já não se passa absolutamente nada.
E no entanto, antes das palavras gastas,
tenho a certeza
de que todas as coisas estremeciam
só de murmurar o teu nome
no silêncio do meu coração.

Não temos já nada para dar.
Dentro de ti
não há nada que me peça água.
O passado é inútil como um trapo.
E já te disse: as palavras estão gastas.

Adeus

Eugénio de Andrade

3 Comments:

  • At 2:36 da tarde, Blogger Luís Miguel said…

    Ainda bem que o adeus é do Eugénio e não teu.
    Estou como a Diana, Rejubilo com as tuas palavras e com essa força que sempre demonstraste e fizeste ser a tua maior arma, a tua maior vontade, a tua identidade.
    Eu cá estarei. Não, não é prciso que me compreendas. Nós, humanos, temos a infinita capacidade de crer em tudo aquilo que não compreendemos. Dá-nos a sensação que somos mais do que realmente somos. E queremos todos tanto...
    *

     
  • At 4:09 da tarde, Anonymous Anónimo said…

    Palavras
    ah...as palavras... as palavras. Parece tão simples junta-las parece tão fácil de conjugar umas com as outras, parece tão simples fazer frases e depois parágrafos e depois histórias e depois romances e depois...e depois.
    ah...as palavras...as palavras.
    Ditas, escritas, lidas, divulgadas, mandadas ao universo de encontro a quem as entenda a quem as queira perceber.
    Poucos, muito poucos, são aqueles que sabem juntar as palavras como cores, como sentimentos, que despertam fantasmas, que transportam para a aventura de viver, para o sonho, para o pesadelo, para a liberdade.
    Fazer sangrar as palavras é porventura o desejo de todos os que se perdem na floresta da palavras. Espetar a faca bem no coração das palavras sem morrer nelas, é o momento sublime de quem as quer usar, como arma de arremesso, como cruz de exorcista, como seta de amor supremo.
    Entrar no mundo das palavras da Patrícia, é como entrar num labirinto, mais, é como ser colocado bem no centro do labirinto. Podemos ir onde quisermos. Encontrar o desespero, a alegria, o desejo a morte a vida. Sem nunca sabermos o porquê ou o para quê. Sem nunca sabermos o inicio e o fim.
    Poucos muito poucos, sabem usar as palavras como chicotes na nossa consciencia. Fica-se sem se saber onde está a ficção e a realidade, onde está a ilusão e a magia, onde está a dor o sofrimento e a alegria. Sim, porque ao ler os textos da Patrícia, nada é definitivamente bom ou mau, aliás nada é definitivo.
    É neste relativismo realista, neste quase desespero ou exaltação da vida que navegam as palavras da Patrícia.
    Sempre que me embrenho nas palavras da Patrícia, vem-me à memória Florbela Espanca. Não sei se pela beleza das palavras se pela rebeldia, se pela insatisfação, se pela procura da perfeição, se pela verdade com que vivem.
    Acreditem. Florbela foi do sul para o norte em busca da morte, a Patrícia veio do norte para o sul à procura da vida no meio estão as palavras. Ah....as palavras sempre as palavras!

     
  • At 6:25 da manhã, Anonymous Anónimo said…

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