abrotea

palavras!simples palavras! patriciags468@gmail.com

quinta-feira, janeiro 15, 2004

Sonha-me!

.
A vida nem sempre é
não é como queremos
nem como desejamos
nem como é suposto
simplesmente,
nem sempre é.
Mas, entre este não ser
e o que desejamos ser
há um universo
de carinhos e promessas
de vontades e verdades
que pensamos e não dizemos
em que amamos
e não tocamos.
Se as palavras não são,
são o que queremos
sentir, desejar, amar
E no fim, sonhar.
Sonha tu, uma vez
que a mim me tens
em permanência
em sonho
em querer
ainda que as palavras
não digam nem estejam
ainda que a vida nem sempre seja
mas esteja!

quarta-feira, janeiro 14, 2004

Perdi-me na confusão...
Deixei de saber a razão das coisas
É tarde demais...
Tarde para quem chora
Tarde para quem ama
Demasiado tarde para sonhar
Deixem-se de coisas!
Da morte não escapo!
Depois...depois vê-se!
Voltarás cá mais vezes.
Pois então! Voltarei!
Com o mesmo despeito!
Com o mesmo desamor!
Vai-te!
Não voltes!
Confusão...
Tantas falas de tanta gente...
Tantas manias de que se sabe!
Tantas formas juntas de me perder!
Deixem-se de coisas.
Deixem-me estar..
É tarde demais! Só!
Tarde demais para ser...

" Muito cedo na minha vida foi tarde demais" (Margarite Duras in o Amante)

.
.
“A tristeza funda só ataca aqueles para quem quase todos os gestos chegam com atraso. Ou, até, tarde demais.” *
E já é tarde demais....Passou da hora e cansei-me de esperar...Quer dizer, não foi bem cansar-me. Não foi uma coisa que quis fazer. Foi o meu corpo que, lentamente, deixou de me obedecer. E foi diminuindo. Murchando. E eu, eu tentei animá-lo, reanimá-lo. Mas de nada serviu. Ficou ali, teimoso, a deixar-se ir. E não tive maneira de o erguer. Ficou demasiado pesado. Demasiado cansado para voltar a ser. De nada valeu falar-lhe mansinho, com carinho. Creio que já nem me ouviu...

*Eduardo Sá - notícias magazine 11/01/2004

domingo, janeiro 04, 2004

Depoimento

De seguro,
Posso apenas dizer que havia um muro
E que foi contra ele que me arremeti
A vida inteira.
Não, nunca o contornei.
Nunca tentei
Ultrapassá-lo de qualquer maneira.

A honra era lutar
Sem esperança de vencer.
E lutei ferozmente noite e dia,
Apesar de saber
Que quanto mais lutava mais perdia
E mais funda sentia
A dor de me perder.

Miguel Torga (1907-1995)

Comigo me desavim

Comigo me desavim,
sou posto em todo o perigo;
não posso viver comigo
nem posso fugir de mim.

Com dor, da gente fugia,
antes que esta assi crecesse;
agora já fugiria
de mim, se de mim pudesse.
Que meo espero ou que fim
do vão trabalho que sigo,
pois que trago a mim comigo,
tamnaho imigo de mim?

Sá de Miranda (1481?-1558)