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quarta-feira, julho 30, 2003

Um quarto em Amsterdão
Para os que insistem em saber, é claro que tenho as 4 partes de "Um quarto em Amsterdão" compiladas num único ficheiro. E não, não me apetece muito enviar por mail. E, não, também não me parece que venha a ser publicado.
(Animando as coisas) Sim, estou a trabalhar no onto para que dele possa sair uma outra história. Porém, não prometo que se assemelhe com este conto, tão pouco nas personagens. Quem sabe se não mudo para uma cidade que me inspire mais?...
Não resisto à tentação....
Estive a ler o blog do Mário Simões (www.vivaz.blogspot.com) e gostei do que diz.
Gosto de quem se assume como é. E o Mário é um alentejano que gosta de ser alentejano. Defende com unhas e dentes aquilo que gosta. Nem que para isso tenha de chamar as coisas pelos nomes e ganhar muitos "amigos"! Concordo contigo Mário. Há valores e coisas na vida que merecem que se lute por elas!
Tenho recebido algumas críticas sobre o que escrevi em "Um quarto em Amsterdão". E é claro que as críticas são sempre bem vindas! Mesmo as que parecem mais descabidas ou maldosas, podem ser (e muitas vezes são) construtivas. Fazem-me reflectir. E deixam a descoberto a forma como os outros sentem o que escrevi.
Claro que, em primeiro lugar escrevo para mim. ~Escrevo pelo prazer que me dá. Às vezes, um prazer doloroso, inquieto, em desespero de mais, mas sempre um prazer. Mas depois de ter escrito, no momento em que o pensamento se materializa, o que escrevo deixa de ser meu para pertencer a todos os que me lêm e a todos os que não lêm mas poderiam ler. E, por isso, é importante saber o que pensam, como sentem as minhas palavras. Tenho algo para lhes dizer e é estritamente necessário que me entendam, que fique patente o que não digo por palavras.
É absolutamente necessário que sintam para além das palavras. E será que sentem? As críticas mostram-me que sim. E mostram-me mais, mostram-me que dentro da história que escrevi, nascem tantas histórias como os olhos que a lêm. Mas, quero um pouco mais. Dizem-me que preciso de concretizar espacialmente a história. Dar-lhe a consistência das ruas e jardins da cidade de Amsterdão. Chamar-lhes nomes. Mas isso eu não quero. O meu quarto é em Amsterdão porque tinha de ser assim e não é fruto do acaso. É a sua essência, o único ponto de referência geográfico importante. O resto, não importa. E, se não dou nome às ruas, é porque a vivência da personagem é essencialmente interior. Melhor, principalmente interior. Como se vivesse dois mundos e o mundo dentro de si fosse mais forte, mais importante. Só pode viver fisicamente uma paixão porque ela nasceu dentro de si e se tornou maior que ela própria. Tão grande foi a força daquele sentimento que fugiu do seu controlo, das paredes do seu corpo e se tornou física e "real". E conflituosa dentro de si, aglutinado tudo, não deixando espaço para mais nada.
Talvez um dia me disponha a escrever com mais consistência "física". Mas, para isso, tenho de voltar a encontrar três manhãs ou tardes de tempo vazio. E isso, não é fácil!
Mas talvez venha a surpreender!

terça-feira, julho 15, 2003

"Um quarto em Amsterdão" faz parte de uma história que não tem princípio nem fim. Uma tentativa de sair da minha escrita normal e construir algo mais. Perdoem-me a inconsistência de escrita. É só um rascunho. Pode ser que um dia se transforme em algo mais. Entretanto, partilho a experiência, consciente dos defeitos.

segunda-feira, julho 14, 2003

Perdoem-me a distracção.
Perdi-me no pensamento...
Não, não ouvi.
Também não tenho o trabalho pronto.
Perdoem-me a distracção...
Perdi-me no vento que corre lá fora.
Perdi-me nas entranhas do pensamento.
Nas minhas próprias entranhas...
Não, não é nada de importante.
Nada que vos interesse saber.
Nada que importe saber.
Bem sei que vos revolveis por dentro.
A curiosidade consome-vos o pensamento,
A especulação domina-vos.
Afinal, seria mais alguém para saborear.
Com as suas fraquezas,
Na comparação da mesquinhez.
Não, não tenho nada.
Nada para vos dizer.
Perdi-me em mim...
Nessa imensidão de memórias.
Bem... As memórias ainda são o menos.
Viveu-se e já está.
Visitam-se e de vez em quando aparecem de surpresa.
Mas pronto. Não há nada a fazer.
Fica o sabor amargo na boca da saudade.
Não, a memória é o que menos interessa.
O pior são os desejos...
Desejar-se o que se deseja...
Desejar-se não sabendo dizer o quê.
Desejar-se, pronto...
Perdoem-me lá a distracção...
Bem sei que não posso prometer ficar sempre cá.
Tenho de me perder algumas vezes...
Preciso de me escapar...
E o pior nem é só sair de mim alguns minutos
Passar horas fictícias em algum outro lugar.
Pior é mesmo desejar não voltar...
Desejar. E não saber dizer onde queria estar.
Perdoem-me a distracção.
Mas tenho o peito a rebentar...
Preciso de sair de mim, viajar para outro lugar
Onde tenha mais espaço, mais ar para respirar.
Onde possa gritar sem que me ouçam.
Sair de mim mesma...
Perdoem-me, mas não fui feita assim...
Não sou de cá. Não sou feita de palha.
Ainda tenho sonhos. Ainda desejo voar.
Perdoem-me a distracção....
O trabalho fica pronto em breve.
Sim, vou esforçar-me por vos ouvir.
Por estar presente e ser como vós...
Perdoem-me. Preciso de ir vomitar.



Todos os dias morremos um pouco...
Do sangue vai jorrando das minhas veias,
Todos os dias se some um pouco
Evapora-se....
Como se a vida para o ser
Tivesse de o beber
Até não mais haver.
E nesse dia, tudo se acaba,
Finalmente..
Tudo se acaba.
Estranha forma de se dizer...
Acaba-se o que se começou.
Poderá haver quem já tenha acabado
Tudo o que começou
Mas continua sem acabar,
Numa agonia que sufoca?
Como se a vida
Se tivesse esquecido de beber
O sangue que lá havia?
E nunca, nunca mais acaba
O que se começou?
Todos os dias morremos um pouco.
Ou morremos muito....



Dentro do peito vive uma força
Que não sei suster
E de tanto não respirar
Sinto que está a morrer.

Mas não lhe posso dar ar
Deixá-la viver...
E sei que quando acabar
Terei de a acompanhar...

Mas se a deixar ficar,
Sinto que me vai comer
Devorar ....
Não nasci para sofrer.
A felicidade é uma coisa estranha...
Das palavras que se escrevem fica sempre o sabor da tristeza, da saudade.
Saudades de quê? De nada! Do que não se viveu, do que se sonhou!
Encontrar rastos de verdade, de correspondência é tarefa impossível.
Mas será que acreditam? Serão capazes de acreditar que o pensamento tem uma dimensão maior que eu?
Que tem memórias de outras vidas, de outras dores e amores?
Acreditará quem me ler, que a memória não me diz?
Acreditará que esta saudade não é minha?
De quem será, então?
Não sei. Não são esses os porquês que busco.
Não me interessa saber quem repousa na saudade doce da memória de uma vida que alguém viveu.
Interessa-me o pensamento, a capacidade de sentir.
De saber até onde se pode sentir, quanto se pode sentir.
Serei eu capaz de ultrapassar os limites do imaginável e sentir para além da dor?
Serei eu capaz de ultrapassar a vida e ter saudades para além da memória?
Terei eu a memória de amar para além da realidade vivida?
Estranho...
Os espaços de liberdade do pensamento diminuem, comprimem-se quando se tentam por em palavras...



Se te dissesse que tenho saudades tuas, acreditavas?
Se fosse capaz de te encontrar e te olhasse nos olhos, dir-me-ias que estiveste à minha espera?
O meu corpo continua na memória do teu
Mas já não estremece. Recorda apenas...
Tem já a serenidade da memória...
E os traços do teu rosto vão se esbatendo
Mas as tuas mãos permanecem nítidas. Creio...
Já não te desejo, mas desejo a memória de ti...
Se fosse capaz de te encontrar, que te diria?


A memória não se escreve duas vezes...
Das horas que retive, permanece ainda em mim a memória doce
Do cabelo em desalinho, das mãos inquietas
Do perfume ...
Por vezes, paro no meio desta multidão e tento encontrar o teu cheiro...
Mas a vida não pára e não se vive duas vezes...

Afinal, de que tenho eu saudades?


sexta-feira, julho 11, 2003

Poderia escrever sobre esta terra que me acolheu, da necessidade de ser acolhida, de ter um chão onde descansar o corpo, do pó e cansaço destas minhas viagens intermináveis. Mas não quero, não me apetece e assim é a vida! Vou libertando a vontade de fazer à medida do necessário, disparando para todos os lados. Hoje será para aqui, ontem foi para uma profusão de cores que se misturaram e deram vida a mais uma mulher, inerte numa tela, como que parada no tempo. Amanhã, não sei para que lado...A dispersão é uma doença. Agrava-se com a idade...Não sou capaz de me ater perante uma folha branca sem dúvidas porque entre as palavras nascem imagens, umas mais perfeitas, fotografias a cores ou não consoante a intensidade da dor; outras imagens, passam por palavras ditas ao acaso, apressadas, quase em fúria, sem revisão nem leitura póstuma, como se de raiva pudesse vingar-me sem remorsos...Vezes há em que preciso abrir as portas ao pensamento, dando-lhe cor, transformando a vida em cores, arriscando em pinceladas incertas um pensamento vago. Nunca sei como ficará. É a forma de expressão mais difícil porque em cada segundo surge a indefinição, como fazer, como dar vida ao pensamento, será mais azul, menos amarelo...Infinitas interrogações. Até que surge ali! Perfeito. E meu. O meu mundo, a minha realidade...
Porque hoje me apetecia só dançar, ter asas de anjo e pular entre as nuvens, não vou falar nada. Nem vou dizer como troquei o oceano do meu horizonte por este mar dourado...Fica para a próxima...

terça-feira, julho 08, 2003

Do olhar que tenho
Vejo, vejo, vejo...
Já não tenho forças para agarrar
A vida que vai a passar.
Do olhar que tenho
Vejo, vejo, vejo...
E já não tenho lágrimas para deitar
Nem rosto para molhar
Deslizo de mim
Retorno a ti em eterno desassossego.
Palavras que não sei dizer
Pensamentos com contornos que na sombra da escuridão se assemelham.
Jurava mesmo serem iguais, perfeitos.
Alma minha que não sabe falar, depositar em algo mais o que a consome
devagarinho, como um cancro, como a vida.
Todos os segundos, todos os dias, levando-os consigo, guardando-os num poço frio.
Negando a possibilidade de refazer, reviver.
De voltar a sentir e poder fazer um universo de coisas novas.
Não para substituir as antigas. Mas para acrescentar.
Nunca se terá tempo para viver o que se sente...
Alma minha maior que o tempo...
Incapacidade de viver e sentir, sentir e viver.
Amar, amar e nada reter...
Seri somente umã pálida luz de mim mesma
Fugaz visão de ilusão de perfeição
Nada, nada mais...
Angústia, desassossego
Regresso a ti com devoção
Só tu pudeste dizer a lucidez
E foste luminosamente suicidário.
Desassossego de mim mesma, a ti retorno
Certeza dos meus incertos pensamentos.
Palavras que não direi
Lucidez que não viverei.
Véu que se arrasta e me prende o caminhar,
Em ti reencontro parte de mim, crueldade desnuda.
Como um purgante que me limpa e alivia.
Dor de viver.
E por isso a ti retorno, espelho da minha alma.
Fosse eu capaz de me deixar cair e não me voltar a erguer!
Nego a perfeição da existência.
Nada é, nem será.
Tudo é angústia.
No que não se vê, reside um universo
Infinito.
Fazemos coisas
Materializamos sonhos.
Tretas!
Tentamos não pensar!
Quanto mais pensamos, mais sentimos.
Quanto mais sentimos, menos queremos pensar.
E, então, fazemos, fazemos.
E deixamos que o tempo nos ocupe e nos leve.
Fazemos para disfarçar tudo o que somos.
Porque não somos perfeitos.
Nem equilibrados.
O meio termo será morrer.