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segunda-feira, novembro 27, 2006

Mário Cesariny

Em todas as ruas te encontro

Em todas as ruas te encontro
Em todas as ruas te perco
conheço tão bem o teu corpo
sonhei tanto a tua figura
que é de olhos fechados que eu ando
a limitar a tua altura
e bebo a água e sorvo o ar
que te atravessou a cintura
tanto, tão perto, tão real
que o meu corpo se transfigura
e toca o seu próprio elemento
num corpo que já não é seu
num rio que desapareceu
onde um braço teu me procura

Em todas as ruas te encontro
Em todas as ruas te perco

Mário Cesariny

sexta-feira, novembro 17, 2006

Desespero….Há dias em que me custa respirar. Viver. Em que é insuportável olhar-me, sentir-me. Em que todas as coisas que me rodeiam e me compõem me parecem demasiado mesquinhas. Não foi assim que sonhei viver. Não é assim que quero viver. Mas é assim que vivo. É nesta realidade que me encontro, para onde a vida me trouxe. Foi para este canto que desembocaram todos os caminhos que percorri. As vezes penso se pudesse voltar no tempo…Não, não gostaria de viver tudo de novo. Gostava, antes, de ter sabido ser mais serena nas minhas escolhas, mais consciente dos riscos, mais corajosa em dizer não. E agora, de nada vale pensar que poderia ter sido tudo diferente. Porque não foi. Nem o será. Nunca mais. E para quem, como eu, sempre achou que podia fazer tudo na vida, entender esta irreversibilidade, aceitar o definitivo, é como tentar respirar o ar todo de uma vez…Sufoca-se…

segunda-feira, novembro 13, 2006

Sobreviverei a ti!
Como sempre sobrevivi ao desamor.
À banalização do meu amor.
Sobreviverei a ti,
Ainda que a alma amputada se esvaia em sangue.
Sobreviverei, ainda que me deixe morrer.
Ainda que do peito nenhum grito de dor,
Nenhuma explosão de amor se ouça mais.
Sobreviverei mesmo quando mais nada haja a guardar,
Nenhum rosto a afagar.
Nenhum gesto a ansiar.
Sobreviverei…
Apenas porque assim é o destino.
Chove em mim como numa noite de inverno...
Havia vida para além das tuas palavras. E também dos meus pensamentos. Mas não conseguia esquecer. Não podia simplesmente desligar. E ficar ali a ouvir-te. Fixava o olhar num ponto qualquer e ali ficava, quieta. Absorta em mim. O que preocupava? Nada. Tudo. Se me tivesses perguntado em que pensava não te saberia responder. Na minha cabeça bailavam pensamentos, discorriam raciocínios. Sobre mim, sobre ti e de novo sobre mim. O que gosto, o que me incomoda. A vida e o comodismo a que me habituei. Como vês, nada. E tudo. Por isso o meu olhar as vezes entristece. Os dias vão passando, embora as horas se arrastem, demasiado lentas. Passa um, depois outro e no fim, passou já tanto tempo. E a mim, parece-me que nada mudou durante todo esse tempo. Parece-me que todos os dias são iguais em sim mesmos. Não muda nada. Noutros dias, os melhores, escondo a tristeza dos meus olhos e concentro-me. Digo para mim mesma que hoje vai ser diferente. E por isso, tento. E por isso, finjo. Sorrio para todos. Tento levantar o olhar do chão. Falo sorrindo. E todos acreditam. E não me questionam. E chego ao fim do dia (ao fim de umas horas) cansada de distribuir sorrisos. Esgotada de fingir o que não tenho. E por fim, escondo-me na escuridão da noite, no descanso fingido, para deixar então que se solte a alma. E que possa desamarrar-se. E chorar e sofrer sem que ninguém veja. Sem que ninguém desconfie. Sem que alguém me incomode. Posso, enfim, descansar. Até de mim.